Quem não quer ver?
O Secretario interino de Saúde de Porto Alegre, em artigo publicado nessa seção, cita algumas ações e iniciativas meritórias, assumidas na gestão do Secretário Elizeu Santos, tomando-as para si e, ao mesmo tempo, aproveitando para denunciar, “alguns que não querem ver” essas ações.
Eu, com todo o respeito ao atual secretário, considero-me parte desse grupo “que não quer ver”, porque, mesmo concedendo que a administração atual tenha realizado algumas ações pontuais, afirmo que essas ações não fazem parte de um processo de planejamento global do sistema de saúde de Porto Alegre. E é disso que se trata. Colocar Porto Alegre em um processo de conversão do sistema de saúde, investindo todas as suas energias e recursos, na constituição de uma estrutura própria da instituição.
A Secretaria de Saúde de Porto Alegre, trabalha com um déficit de mais de 1.000 (hum mil) funcionários dentre os quais mais de 200 médicos. A grande maioria dos médicos concursados, que foram chamados pela Secretaria, recusaram-se a assumir seus cargos em função dos baixos salários atualmente pagos.
O Hospital de Pronto Socorro, já disse e repito, tem um déficit de 350 funcionários (70 médicos) e os pacientes continuam a ser atendidos nos corredores e na sala do gesso e a área física do hospital continua em péssimas condições.
As emergências continuam superlotadas, com o problema momentâneamente agravado em função da superlotação das UTIs Neonatais. Os paciente permanecem nessas emergências dias ou até semanas. Não deveriam permanecer mais do que 12 a 24 horas, de acordo com as normas técnicas. E, para variar, ninguém se propõe a auditar os grandes hospitais filantrópicos.
A falta de medicamentos, os mais comuns, é vergonhosa na imensa maioria das farmácias. E os funcionários não cansam de denunciar as suas más condições de trabalho.
As reformas das Unidades Sanitárias deveriam incluir alguma idéia decente de como acabar com as filas, onde os cidadãos, via de regra, pobres e idosos ficam desde as primeiras horas da madrugada até o final da manhã, para conseguir uma consulta médica. E quando chegam ao balcão de atendimento, só tem um funcionário para atendê-los.
Caso a Secretaria esteja aplicando recurso acima do disposto na Emenda 29 (15% das RTL), e isso tem acontecido historicamente, cabe ao gestor municipal buscar formas de negociar junto aos gestores do Estado e da União, para exigir mais recursos, tendo em vista que Porto Alegre atende uma parcela significativa da população da região metropolitana de Porto Alegre e do interior do Estado.
Lucio Barcelos – Médico Sanitarista – Consultor do MS
POA 24/março/2010.
Lucio Barcelos – Médico Sanitarista – Consultor do MS
POA 24/março/2010.