sexta-feira, 22 de outubro de 2010

HPS: ampliar ou descentralizar?

Existem questões que, em função de sua relevância, o poder público não deveria assumir uma posição, sem uma ampla consulta à população.

A decisão do Prefeito José Fortunati de desapropriar imóveis com a finalidade de ampliar o Hospital de Pronto Socorro, creio, é uma das questões que se inscreve nessa categoria, tendo em vista a possível existência de alternativas mais benéficas à população de Porto Alegre.

Uma possibilidade – talvez a mais importante – é a proposta de construção de um novo Hospital de Pronto Socorro na Zona Sul da cidade, que se constitui numa antiga reivindicação da população do município, até hoje não concretizada.

Afora esta, certamente, deve haver outras alternativas, sendo papel da Prefeitura tomar a iniciativa de constituir um Grupo de Trabalho com o objetivo de consolidá-las e apresentá-las à sociedade porto-alegrense.

É importante reafirmar, nesse contexto, que o principal problema do sistema de saúde de Porto Alegre é a inexistência de uma rede de Atenção Primária, que funcione efetivamente. O sistema que existe é precário, disperso e não resolutivo, forçando a população a “emergencializar” seus sofrimentos. A superlotação permanente dos serviços hospitalares de emergência é um reflexo dessa situação. O próprio HPS atende, diariamente, dezenas de cidadãos com problemas de saúde que deveriam ter sido resolvidos lá na atenção básica

Não estou sugerindo, com isso, que não se deva cogitar da ampliação do HPS ou da construção de um novo Hospital de Urgência/emergência. Como tudo na vida, a saúde é um sistema único e integrado. Não será resolvido apenas com a ampliação de serviços de emergência, como não será resolvido apenas com a ampliação de leitos hospitalares. Por último, a Prefeitura sabe que os salários pagos aos seus profissionais da saúde são baixos e que existe um déficit de mais de 350 funcionários no quadro do HPS, dos quais mais de 70 são médicos (dentre eles, anestesistas, traumatologistas, cardiologistas, neurologistas. Mais do que isso, pelo que eu sei, os médicos que recém ingressaram, estão na iminência de pedir demissão em razão da sobrecarga brutal de trabalho e pelos baixos salários que recebem.

Entendo que a população de Porto Alegre, e principalmente aquela que reside nos bairros circunvizinhos ao Hospital de Pronto Socorro, ficaria muito orgulhosa de ter sua opinião ouvida, a respeito de algo que vai estabelecer uma mudança significativa no seu dia a dia.

Lucio Barcelos
Médico Sanitarista – Ex-Secretário da Saúde de Porto Alegre
Outubro de 2010.

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