domingo, 18 de abril de 2010

Artigo enviado à Seção de Artigo do Jornal ZH em 04/04/2010

O governo Lula e o crack.

Sete anos e três meses depois de empossado, o Presidente Lula, de acordo com matéria de capa da edição de sábado de Zero Hora, resolveu cobrar um mutirão dos seus ministros para enfrentar o que se convencionou chamar de epidemia do crack.

Não sei qual o grau de credibilidade que a ZH empresta ao Presidente Lula. Eu, particularmente, não empresto nenhuma e tenho uma convicção formada a esse respeito: creio que o Presidente Lula, seu governo, não estão e nunca estiveram seriamente preocupados com o uso disseminado do crack, ou de outras drogas potencialmente nocivas aos cidadãos. E explico por que: caso estivessem realmente preocupados, teriam definido políticas públicas para o enfrentamento desse problema, lá no início do seu primeiro mandato, ou, sendo generoso, no início do segundo.
O governo Lula sabe, e nós sabemos que o uso de drogas, aí incluído o crack, necessita de um terreno propício para sua disseminação. E no que se assenta esse terreno? Basicamente, numa sociedade onde as desigualdades sociais por absurdas, se impõem, absolutas, sobre todas as demais relações que permeiam essa mesma sociedade. Onde impera a impunidade e todas as relações sociais são vistas sob a ótica dos “negócios”. Onde as taxas de desemprego ou de subemprego, são preocupantemente mais elevadas entre os jovens e onde, de acordo com a última PNAD apenas 25% dos jovens das classes C, D, e E, freqüentam o nível médio de ensino. Onde a violência se sobrepõe ao sentimento de vida em comum, e onde, de acordo com a OMS, existem 38 milhões de pessoas em situação de risco alimentar e 12 milhões de famílias, ou seja, 60 milhões de pessoas vivendo de políticas compensatórias.
A lista dos problemas é interminável e pode haver divergências a respeito do grau de relevância ou sobre em que proporção esses fenômenos sociais são determinantes na disseminação das drogas. O que não se pode é ignorá-los. E é isso o que o governo Lula tem feito, sistematicamente, salvo algumas medidas mitigantes. Declarações midiáticas em ano eleitoral e criação de grupos interministeriais em final de governo não anulam e nem reduzem a gravidade dessa situação.

No âmbito das medidas restritas ao desvendamento do problema, um bom começo poderia ser a realização imediata de um amplo estudo epidemiológico, traçando o perfil dos usuários de droga no país, com ênfase no crack. Sugestão que, aliás, já encaminhamos a Secretaria de Saúde do Estado, sem sucesso, até esse momento.
Lucio Barcelos
Médico Sanitarista
abril de 2010.

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