segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Limpeza social e rendimentos na saúde: tudo a ver!

Um dia destes, você vai acordar, levantar, e ler, em letras garrafais, a seguinte manchete estampada nos principais jornais do país: “Polícia invade bairro de classe média alta, em busca de drogas e traficantes” ou essa “Polícia invade mansão em bairro de classe alta e prende um dos maiores controladores da droga no País”.

Ou, ainda: “Governo resolve publicar decreto, federalizando os hospitais falimentares da ULBRA”, ou, essa, “Governo estatiza rede de hospitais filantrópicos que utiliza o dinheiro público para se capitalizar”.
Dificilmente veremos esse dia chegar, uma vez que a força policial/militar do Estado, está voltada para promover a ‘limpeza” dos morros e favelas, onde vive a população pobre e sem acesso a políticas públicas decentes. O problema real, tanto em um caso, o do tráfico de drogas, quanto no outro, o da desassistência à saúde, é que os verdadeiros responsáveis pelo empobrecimento e pela desassistência, não são sequer nomeados nessa infernal batalha do bem contra o mal, onde, invariavelmente, o mal são os pobres, negros e, se necessário, homossexuais. De concreto, fica o aprofundamento do preconceito e do distanciamento existente entre as classes remediadas e a população pobre que, de acordo com o politicamente correto, não vivem mais em favelas, e sim em “comunidades”. Anomalia que se inscreve na mesma política atual, de dar nomes vistosos, para antigas e reconhecidas situações de “apartheid” social.

Na área da saúde, a guerra para destruir os serviços públicos e transformá-los em serviços privados, rentáveis ao capital, beira, atualmente, às raias do absurdo. A tal ponto que hoje, em nosso Estado, restam uma meia dúzia de serviços tipicamente públicos. A mais recente frente de batalha é a proposta de transformação do Programa de Saúde da Família, da SMS de Porto Alegre em uma Fundação Privada. O que significa colocar o motor do sistema público (a atenção primária), a serviço dos rendimentos do setor privado, fechando o ciclo do processo de privatização desse setor.

Tem gente que considera isso positivo. Da mesma forma que existem aqueles que aplaudem a invasão das favelas do Rio de Janeiro. Limpeza social e rendimentos na saúde. Nesse ritmo, em pouco tempo, seremos todos usuários de planos de saúde e consumidores de drogas, provenientes de centros de abastecimento da classe média alta. Os demais estarão dizimados. Outra alternativa, mais saudável, seria começar a debater, seriamente, a legalização das drogas e a estatização da saúde.

Lucio Barcelos – Médico Sanitarista

Dezembro de 2010.

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