segunda-feira, 1 de março de 2010

Emergências do SUS: mais do mesmo!

Das duas uma: ou bem alguns dirigentes da categoria médica não entendem um ovo daquilo que diz respeito à conformação do sistema (que deveria ser) público de saúde, ou bem se fazem de tontos. Qualquer que seja a hipótese verdadeira é de deixar todo o mundo profundamente indignado.

A repetição dos já surradíssimos argumentos de que o problema da superlotação das emergências hospitalares é motivado pela redução de leitos e que, portanto, existe a necessidade de ampliá-los, e que faltam investimentos, e que tem um jogo de empurra, e que o Hospital Conceição “insiste” em manter suas portas abertas é, no mínimo, patético e uma ofensa a inteligência de qualquer cidadão medianamente informado.

Primeiro, e aqui sou abrigado a me repetir, o problema da superlotação não é, nunca foi e nunca será, do ponto de vista do sistema, um problema estritamente de falta de leitos. Ele pode até aparecer como tal. Aliás, se fosse assim, bastaria que os gestores do Estado e do Município, uma vez na vida, se enchessem de coragem e cobrassem os leitos que os grandes hospitais filantrópicos devem ao SUS. Mas, todo mundo se faz de maluco, ou de surdo. Cada um olha para um lado, faz de conta que nada foi dito, e a vida continua. Uma droga para a população, mas continua.

O problema das emergências dos hospitais de Porto Alegre, ou de qualquer outra grande cidade do país, vou me repetir mais uma vez, só será resolvido caso os governantes resolvam criar vergonha na cara e fazer aquilo que a Constituição Federal determina, isto é, promover uma reversão do atual sistema de saúde, que não é público e nem único, para um sistema de saúde estatal, cuja execução é de responsabilidade direta do Estado. Sem intermediários e sem conversa fiada de que não tem dinheiro. Uma vez tomada essa decisão política, poderemos começar a conversar sobre organização regionalizada, atenção básica resolutiva, regulação do sistema, hospitais qualificados, produção de medicamentos e equipamentos, etc., etc., etc.
Enquanto não houver essa reversão, vamos ficar ouvindo a mesma choradeira de sempre, que já estamos ouvindo a mais de 20 anos, que nada resolve e penaliza cada vez mais a população que necessita de atenção do SUS. O problema do sistema é de falta de dinheiro e de gestão. Conversa mole para boi dormir.

Lucio Barcelos
Médico Sanitarista – Consultor do Ministério da Saúde
POA, fevereiro de 2010.

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