segunda-feira, 1 de março de 2010

Saúde se faz com gente.

Hoje pela manhã, tive a oportunidade de, mais uma vez, visitar as dependências do nosso
Hospital de Pronto Socorro. Descrever as péssimas condições de trabalho dos profissionais, o “amontoamento” de pacientes nas enfermarias e nos corredores, a deterioração das instalações físicas e o uso de equipamentos totalmente obsoletos (os aparelhos de RX têm mais de 20 anos – são da era pré-digital), não é suficientes para que se entenda a extensão do dano que a atual administração está causando àquele serviço.
A seguir, apresento alguns números que são bastante ilustrativos do que se disse acima: hoje, o hospital trabalha com um déficit de aproximadamente 350 trabalhadores. Esse número representa praticamente um terço do total de funcionários que eram lotados no hospital. Deste total, 77 são médicos, 15 enfermeiros, 126 técnicos de enfermagem, 13 técnicos em radiologia, 15 motoristas - SAMU, 09 operadores de rádio transceptor, 04 técnicos em segurança do trabalho e outros profissionais administrativos. A redução de médicos é mais sentida nas áreas de traumato-ortopedia, oftalmologia, otorrinolaringologia, anestesiologia e cirurgia plástica. Os traumato-ortopedistas, que já foram 38, hoje estão reduzidos a 19 (50% a menos), sendo que alguns estão aguardando sua aposentadoria. De 13 anestesistas nomeados, não resta nenhum, pois todos consideraram os salários incompatíveis com suas funções.
De um ponto de vista mais geral, a situação é praticamente a mesma: dos funcionários “municipalizados” (cedidos pela União e pelo Estado) que no ano de 1996 eram 1.731, hoje restam 989. Há, portanto uma redução de 742 funcionários, dentre os quais 180 médicos. Deste total, quantos foram repostos pela Prefeitura? Fizemos essa pergunta, oficialmente para a Prefeitura e não obtivemos resposta
O que importa discutir, para além do déficit de pessoal, que por si só já é um importante problema, é o significado desse processo de desmantelamento, no ambiente de trabalho, para aqueles que ainda restam na instituição. Há, no geral, um sentimento de abandono, desestímulo e de desvalorização. O que vale é que, até o momento, ainda prevalece a relação de dedicação e compromisso dos trabalhadores para com a saúde da população. Esperemos que ela perdure até o dia em que os governantes priorizem, de fato, o sistema público de saúde.

Lucio Barcelos
Médico Sanitarista – Consultor do Ministério da Saúde
Fevereiro 2010.

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