quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Muito mais do mesmo!

Talvez os tempos já sejam outros. Mas penso que ainda é tempo de tecer alguns comentários sobre o segundo turno das eleições presidenciais.

Antes de qualquer coisa, eu não só não me preocuparia com os 36 milhões de eleitores que votaram nulo, branco ou que se abstiveram (29 milhões), como ousaria parabenizá-los. O que deveria ser motivo de nossa preocupação, na verdade, são os 99 milhões de almas que votaram em um dos dois candidatos. Esses sim, legitimaram, mais uma vez, um sistema que não lhes confere nenhum poder de decisão e sequer de fiscalização.

Perpetua-se, assim, uma falsa democracia, onde o poder efetivo não emana do povo. Ele é concedido pelo povo, mas não lhe é devolvido. Passada a farsa eleitoral, as decisões, não importando sua natureza, são tomadas pelos setores minoritários da sociedade, que detêm os meios de produção. A população somente é chamada para votar. Antes e depois, tudo o que acontece no país, acontece à sua revelia. Para o bem ou para o mal.
As eleições recém findas, refletindo o completo esgotamento das formas de representação vigentes, representaram nada mais do que o completo desprezo da “classe política profissional” pela população. O artificialismo, a marquetagem desavergonhada e a ausência absoluta de compromissos para com os cidadãos, são uma prova cabal desse fato. O mérito dessas eleições, possivelmente, tenha sido o fato de elas colocarem a nú, “como nunca antes nesse país” o fosso que separa os chamados poderes constituídos, do conjunto da população.

Creio que os 36 milhões de eleitores que, de alguma forma, não votaram em nenhum dos candidatos, merecem uma atenção especial.

Eles podem querer dizer que está na hora de começar a pensar no voto facultativo. Como ocorre nos países desenvolvidos. Ou que deveríamos definir reformas que não permitissem a eternização dos mesmos candidatos, como se profissionais fossem. Ou que deveríamos introduzir, como nos Estados Unidos o chamado “recall”. Isto é, a revogabilidade dos mandatos, pela vontade do povo. Ou, ainda que as formas de consulta popular, referendos e plebiscitos, não necessitassem mais de autorização expressa dos senhores parlamentares, bastando para isso a vontade dos cidadãos.

É hora de impulsionar a participação popular em todos os níveis. Basta de faz de conta democrático!

Lucio Barcelos
Médico Sanitarista – Ex-Secretário de Saúde de Porto Alegre
Novembro de 2010.

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