Nesta próxima sexta-feira, dia 06 de novembro, chega ao nosso Estado a “Caravana em Defesa do SUS”, cujo tema central é “TODOS EM DEFESA DO SUS”.
A escolha desse tema suscita dúvidas e preocupações que, sem a pretensão de esgotar o assunto, gostaria de abordar nesse artigo.
Em primeiro lugar é importante que se defina quem são “todos” que defendem o SUS e, em segundo lugar, afinal, de qual SUS estamos falando?
Será que os “todos” incluídos no tema central da Caravana têm os mesmos interesses e defendem uma mesma concepção de SUS?
Em minha opinião, caso “todos” inclua o conjunto dos setores e classes representadas em nossa sociedade, essa hipótese, a da defesa comum do SUS, não se sustenta.
O SUS que os trabalhadores e setores médios da sociedade defendem e necessitam é substancialmente diferente do SUS que o empresariado que “investe” na área da saúde defende e quer.
O SUS que interessa a imensa maioria da população brasileira (os 80% que dele dependem diretamente) é um SUS universal, integral, de qualidade e executado diretamente pelo Estado. É um SUS onde o Estado deveria assumir diretamente a responsabilidade pela produção de “todos” os insumos, equipamentos e serviços que dizem respeito ao complexo industrial da saúde e, ao mesmo tempo, assumir a responsabilidade pela prestação direta desses mesmos serviços. É um SUS onde a presença do setor privado é residual, tal como determina a Constituição Federal.
O SUS dos empresários é um outro tipo de SUS.
É um SUS que vive de incentivos, subsídios, filantropias e benesses patrocinadas pelo Estado, com os recursos dos impostos retirados dos trabalhadores.
É um SUS que oferta atendimento diferenciado, de acordo com as posses de cada cidadão. É um SUS que discrimina desde a porta de entrada da instituição até a prestação dos serviços, sejam eles quais forem. É um SUS que vive das terceirizações, da precarização dos contratos de trabalho e da apropriação de locais de trabalho pertencentes ao Estado em benefício próprio.
Nós somos defensores incontestes do SUS universal e executado diretamente pelo Estado.
A manutenção da bandeira do “Todos em Defesa do SUS”, que se recusa a enxergar a existência de interesses opostos na construção do SUS, configura-se em um equivoco irreparável, que contribui para perpetuar a situação de abandono em que se encontra a população que dele depende.
Lucio Barcelos
Médico Sanitarista
Artigo publicado em Zero Hora, no dia 06/11/2009. Clique aqui para ver.
Nenhum comentário:
Postar um comentário