Artigo publicado na edição de ZH do dia 14 de setembro de 2010.
Eleições 2010: o real e o imaginário.
Talvez, se nós parássemos um pouco para pensar, chegaríamos à conclusão de que as eleições, da forma como hoje se desenvolvem, não são mais do que um dispendioso e triste espetáculo, sem qualquer significado para nós ou para o futuro da sociedade.
Não precisa ser nenhum cientista político para constatar que são poucos os que ainda dão crédito a esse sistema. Basta andar pelas ruas da cidade, conversar com as pessoas e a conclusão óbvia é essa. A distância entre a vida real, o dia a dia dos cidadãos e o sistema político que pretensamente os representa, é quilométrica. O que resta é a imagem de um sistema que, em décadas passadas, teve algum significado para a melhoria das condições de vida das pessoas. Um sistema falido, farto em desigualdades e, sobretudo corrupto. Não que não existam alguns candidatos, ou alguns partidos com bons propósitos. O problema é que não bastam bons propósitos. As questões que de fato interessam à sociedade não são resolvidas no âmbito do parlamento. Elas se resolvem na esfera do grande capital financeiro internacional. E algumas outras de média importância, são resolvidas pelas medidas provisórias do presidente/monarca de plantão. Restam ao parlamento, algumas questões do varejo, de menor importância, que nem sempre os parlamentares conseguem resolver.
Mas, lá no fundo, as pessoas ainda acreditam na hipótese da recuperação desse sistema. Elas precisam acreditar. Eu arriscaria a dizer que se trata de um mecanismo de auto-preservação. As pessoas não admitem que algo duramente conquistado há 30 ou 40 anos passados, hoje, não passe de uma farsa grotesca, sem volta. O problema real é que essas mesmas pessoas que rejeitam o sistema, na forma como ele se apresenta, ainda não vislumbram uma alternativa concreta à ele. E, na ausência de uma opção melhor, elas não querem e não podem abrir mão daquilo que uma vez conquistaram. Elas cairiam no vazio. Viveriam uma sensação de retrocesso. De perda de conquista. O que, de um ponto de vista formal, não deixa de ser verdadeiro. Então esse é o dilema: uma farsa que se mantém como um sistema de representação cuja solução se dá pelo surgimento de uma forma representativa mais justa, o que somente pode acontecer por força de uma ampla mobilização da própria sociedade.
O problema está exatamente nisso: o que colocar no lugar do atual sistema eleitoral e de representação parlamentar? Só a população, com sua mobilização pode nos dar uma resposta. Esperemos por ela! E que seja breve!
Lucio Barcelos
Médico Sanitarista e Ex-Secretário da Saúde de Porto Alegre
Setembro de 2010