quinta-feira, 17 de março de 2011

Esquizofrenia e demissões na Saúde:

As últimas semanas foram pródigas em declarações de altas autoridades governamentais a respeito dos gastos públicos do Brasil com a saúde. De acordo com essas autoridades, o Ministro da Saúde inclusive, o Brasil aplica irrisórios 370 dólares per capita/ano em seu sistema de saúde. Os países desenvolvidos, de acordo com essas mesmas autoridades, aplicam, pelo menos, dez vezes mais recursos que o Brasil. Conforme essas mesmas fontes, no Brasil, as famílias gastam mais do que o setor público para garantir seu acesso à saúde. Certamente, comprando planos de saúde ou pagando seus custos de forma direta.

Entre perplexo e assombrado, fiquei me perguntando: quem é esse “Brasil” que aplica apenas 370 dólares per capita em saúde, tão corretamente denunciado pelas autoridades governamentais? Deve ser, suponho, um ente abstrato, ingovernável. Porque o Brasil real, é governado há mais de oito anos pelo mesmo consórcio de partidos do qual fazem parte, pasmem, as “autoridades” denunciantes.

Então, vivemos numa situação de esquizofrenia absoluta. Os representantes dos partidos que governam o país há oito anos, com direito há mais quatro, que são os responsáveis pelo fato de o Brasil aplicar somente 370 dólares per capita em saúde, e que tiveram e têm todas as condições de melhorar esse escandalosamente baixo percentual, se dão ao desplante de vir a público e dizer, alto e bom som: “o Brasil aplica essa ninharia em saúde”. E aí, o governo vai fazer o que, mesmo a esse respeito? Não investiram praticamente nada em saúde nos dois mandatos do governo Lula, não será em mais quatro que investirão.

E o pior é que são as mesmas autoridades que “denunciam” que nos últimos anos, houve, no Rio Grande do Sul, uma redução de mais de 30% dos leitos hospitalares. E nada fizeram para alterar esse quadro calamitoso. São as mesmas autoridades que, por absoluta falta de vontade política, acabam de permitir a demissão de 479 trabalhadores da saúde. Que é o maior crime perpetrado contra uma categoria de trabalhadores que já presenciei. E são as mesmas que não conseguem resolver a vergonhosa superlotação dos serviços de emergência dos hospitais. E que não têm competência mínima para reduzir o tempo de espera para a realização de um simples exame complementar ou uma internação eletiva.

É um sistema que, ao contrário do que seria de esperar, caso houvesse políticas adequadas, apresenta-se em processo de desagregação, de involução. Não vejo no curto prazo, uma saída positiva para essa situação. Espero estar profundamente equivocado, e que surja algo que contradiga minhas impressões.

Lucio Barcelos – Médico Sanitarista
Março de 2011.

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