sábado, 7 de abril de 2012

Mortes silenciosas, governo omisso.


Retomo os problemas vividos pelos moradores do Hospital Psiquiátrico São Pedro, porque o Governo de nosso Estado , passados 07 meses de minha exoneração do cargo de Diretor geral daquela instituição, mantêm sua postura de omissão e desrespeito com os Direitos Humanos mais elementares.
Em 12 de agosto de 2011, motivado pelas constantes negativas do governo em melhorar as condições em que vivem aqueles pacientes, solicitei minha saída da direção do hospital. Na época, ingressei com uma Representação junto ao Ministério Público Estadual, solicitando que o mesmo interviesse, constrangendo o governo a tomar as atitudes necessárias para resolver os problemas básico que denunciei .
Passados sete meses, não tendo o governo tomado nenhuma atitude, chego a conclusão que, infelizmente, o que fiz, foi muito pouco.
Nesse período, morreram 24 pacientes, - uma média de 04 por mês -, agravando a situação anterior.
Há poucos dias atrás, em um programa da TVCOM, a Coordenadora do Departamento de Atenção à Saúde (DAS), declarou que “a Secretaria da Saúde do Estado vai proceder os trâmites necessários para licitar as reformas necessárias no Hospital”. É inacreditável. Numa situação como essa, onde os pacientes (homens e mulheres, idosos em sua maioria), morrem por doenças evitáveis, isto é, morrem por negligência do gestor público, por ausência de cuidados, ou por ausência de assistência médica, o órgão público, por mais desastroso que seja, pode, sem risco algum, dispensar o processo licitatório e contratar os serviços necessários em regime de urgência.
Não é possível ficar em silêncio, assistindo a essa situação grotesca, onde cidadãos, sob a guarda do Estado morrem por doenças respiratórias, evitáveis, e o Governo, demonstrando a mais absoluta insensibilidade, se faz de cego, surdo e mudo. Com o agravante da ocupação das áreas mais confortáveis e seguras do hospital, por cargos comissionados administrativos.
Custo a crer que os altos escalões do Estado tenham ciência disso. E que os quadros de direção central da Secretaria da Saúde do Estado, compactuem com uma situação de evidente desrespeito com a vida humana, em nome de uma “política” ditada pela Reforma Psiquiátrica, de esvaziamento dos hospitais psiquiátricos. Esvaziar, criando formas substitutivas como os Residenciais Terapêuticos e os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), está correto. Agora, esvaziar os manicômios, ao custo da aceleração dos óbitos, da negligência e da omissão com os cuidados elementares que os doente mentais necessitam, não. Constituí-se em um profundo desrespeito com a vida humana.
Medidas legais ou uma nova Representação junto ao Ministério Público Estadual, ou ambas, urgem, para obrigar o Estado a assumir suas responsabilidades elementares. É o que faremos.

Lucio Barcelos - Médico Sanitarista
Abril de 2012

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