domingo, 23 de maio de 2010

Custa respeitar os cidadãos?

Dei-me ao trabalho de contar. Eram 43 veículos, entre ônibus, micro-ônibus, vans, mini-vans, ambulâncias e automóveis. Todos no entorno do Hospital de Clínicas, principalmente na Praça.Major Joaquim de Queiroz, lindeira à Rua Jerônimo de Ornellas. Considerando uma média de 10 pessoas por veículo, teremos aproximadamente 430 pacientes por dia, 8.600 por mês, em busca de consulta médica, vindas dos mais diversos municípios do interior do Estado.

Certamente, não é uma visão alentadora. E, como não poderia deixar de ser, rapidamente organizou-se um mercado em torno dessa massa de gente: ambulantes vendendo lanches e todo o tipo de bugigangas, restaurantes “conveniados” com os condutores dos veículos que devem receber algum “por fora” para indicar seus serviços, facilitadores de senhas para consultas e outros serviços do gênero.

Situação idêntica acontece nas vizinhanças do Grupo Conceição, dos hospitais da Santa Casa e do Hospital da PUC. A situação para os moradores de Porto Alegre não é diferente. As filas são uma constante, a falta de medicamentos de uso continuado é permanente e o tempo de espera é ultrajante.

São pessoas tratadas sem o mínimo de respeito e dignidade. Precisava ser assim? O poder público não poderia resolver essa situação de tal forma que as pessoas tivessem um acesso digno ao sistema (dito público) de saúde? O que é necessário para que isso seja feito? Falta conhecimento técnico ou capacidade gerencial? Não creio que sejam essas as razões para a permanência desse estado de coisas.

Olhando mais de perto, pode-se facilmente perceber que essa desordem ou, se preferirem, essa desorganização aparente, que impede o acesso direto e imediato ao sistema de saúde, joga água no moinho das centenas de seguradoras de saúde privada existentes no país. Assim, fica mais fácil de compreender. A esparrela da falta de recursos governamentais é simplesmente ridícula. De janeiro a abril deste ano foram arrecadados R$ 256.889 bilhões pelo governo federal. A soma total arrecadada, acrescentando os Estados e Municípios é de R$ 456.481 bilhões de reais. Não tenho dúvidas de que com esse dinheiro todo, por mais PACs que inventem, dá para custear uma saúde digna para a população. Basta o governo eleger a saúde como uma prioridade efetiva, real, e não, como diz o ditado “da boca para fora”. De olhar para a população e resolver um dos problemas mais dramáticos que ela enfrenta nos dias atuais.

Lucio Barcelos - Médico Sanitarista
Maio de 2010.

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