quinta-feira, 27 de maio de 2010

Estamos postando a íntegra do e-mail enviado e divulgado pelo jornalista Paulo Sant'Ana em sua coluna do dia 26/maio/2010.

Prezado Paulo Sant'Ana:
Meus parabéns pela tua coluna de hoje. Estou de pleno acordo com a caracterização de "vergonhosa" que dás para as "filas" das cirurgias eletivas. É patético, mas um cidadão, para conseguir uma simples cirurgia de varizes, que deveria ser para o dia seguinte, fica numa "fila" de espera de 02, 03 ou até 04 anos. O que dizer de uma cirurgia de alta complexidade, de um exame laboratorial mais complexo, ou das filas reais, do cotidiano das pessoas que se amontoam na frente das unidades de saúde em plena madrugada, para conseguir uma simples consulta com um clínico geral. Não é preciso dizer que são pessoas pobres, em geral idosas ou mulheres com crianças de colo. É um desrespeito absoluto com os direitos mais elementares de qualquer cidadão.
Agora, se você me permite complementar teu raciocínio, acho que devemos nos perguntar porque existe essa escassez de profissionais, equipamentos e leitos. Certamente não é por falta de recursos financeiros: juntos a união, os governos estaduais e municipais, nos primeiros quatro meses e vinte e quatro dias desse ano da graça de 2010, já arrecadaram a fabulosa quantia de R$ 472 bilhões em impostos. É isso mesmo! 472 bilhões de reais em impostos pagos pela população que trabalha. E vem me dizer que não pode resolver o problema das filas reais ou virtuais da saúde pública. Que não pode resolver o problema da falta crônica de medicamentos de uso contínuo. De órteses e próteses. De medicamentos para o tratamento da AIDS.

O problema é que essa é uma briga de cachorro grande. Primeiro, porque o sistema público, na verdade é subordinado ao sistema privado, onde o que impera é a lógica do lucro e não a do bem estar da população. As grandes empresas de seguros (planos) de saúde vivem parasitando o Estado, sugando recursos públicos através da transferência de seus "clientes" para o que resta de sistema público de saúde. Segundo que o Estado brasileiro não produz um milésimo das necessidades da população em termos de medicamentos, vacinas e outros insumos. Quem produz os medicamentos e, ao mesmo tempo, o incentivo a "medicalização" da saúde são as grandes multinacionais do ramo. Ocorre o mesmo fenômeno na área de produção de equipamentos hospitalares e de equipamentos para as áreas de diagnóstico (imagens principalmente) e terapêuticos (hemodiálise, quimio e radioterapia, etc.).

Então, vivemos em um mundo onde a saúde é regida direta e completamente pelos interesses de grupos privados e não por um "Estado" que priorize os interesses gerais da população.
Acho legal sugerir que não se faça eleição enquanto não forem resolvidos os problemas da saúde. Até por que, essas eleições que aí estão, não passam de uma grande farsa, onde as cartas já foram dadas e os vencedores já são conhecidos.

Na verdade, ou a população se move e exige a reformulação total do sistema de saúde, colocando-o a serviços de todos, ou vamos continuar com pequenas medidas mitigadoras, que não resolvem o problema de fundo da saúde: sua natureza pública ou privada.

Um grande abraço.

Lucio Barcelos - Médico Sanitarista
Mrembro do Conselho de Representantes do SIMERS/RS
Ex- Secretário da Saúde de Porto Alegre de Gravataí e de Cachoeirinha
Ex- Presidente do Conselho Estadual de Saúde e Vice-Presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde.
Vereador suplente pelo PSOL em Porto Alegre

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